terça-feira, 18 de agosto de 2009

Democracy 2.0

De autoria de Rafael Soares, Analista Consultor de TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação) na UPP - Unidade de Prospecção e Padronização, da ATI - Agência Estadual de Tecnologia da Informação / PE.

No dia 04 de Novembro de 2008, Barack Obama foi eleito o 44° Presidente dos Estados Unidos da América e se tornou o primeiro presidente negro da história daquele país. O presidente Obama, entretanto, não foi pioneiro apenas neste aspecto. Ele também é considerado o político que realizou a primeira campanha eleitoral efetivamente do Séc. XXI. Para se ter uma ideia, sua campanha ultrapassou o número de 3 milhões de contribuintes individuais, mais que o dobro do número de George W. Bush, quatro anos antes. A sua campanha, porém, ficou realmente marcada por ter sido uma campanha focada na tecnologia, em especial na Internet, ou melhor, na Web 2.0.

O perfil de Obama no Facebook tinha mais de 3 milhões de “amigos” (seis vezes mais que McCain), a lista de e-mail da campanha tinha cerca de 13 milhões de pessoas (mais que todas as listas do Partido Democrático juntas), além dos 57 perfis no My Space, um site e um blog oficial (sem contar os mais de 100 não oficiais), perfis no Facebook e Twitter (onde Obama obteve cerca de 250 mil “followers”) e 2 mil vídeos no Youtube (o principal deles foi visto por mais de 8 milhões de pessoas, atingindo uma notoriedade muito maior que na TV aberta). Não podemos dizer que Obama venceu por causa da Internet, mas sem ela dificilmente ele teria atingido essa vitória.

Após as eleições, durante a transição, Obama criou o site change.gov onde os cidadãos americanos podiam se cadastrar e submeter propostas para o novo governo, além de permitir que os usuários atribuissem notas a cada proposta, destacando as melhor avaliadas. O site, em apenas oito dias, recebeu mais de 125 mil usuários e 44 mil propostas, avaliadas 1.4 milhões de vezes. Os temas mais frequentes nas propostas foram economia, energia e meio ambiente. Uma das propostas, relacionada a emissão de poluentes pela indústria automotiva, foi colocada em lei por Obama já em Janeiro deste ano. Após a posse, o site foi migrado para http://whitehouse2.org/ e renomeado para White House 2.0.

Outra iniciativa que segue o mesmo caminho é o http://www.whitehouse.gov/open/ uma comunidade criada para promover debates e colher informações diretamente dos cidadãos, somando ao conhecimento dos funcionários públicos o conhecimento dos cidadãos, fazendo com que o governo tenha certeza que está tomando as decisões mais acertadas, de acordo com os desejos da sociedade americana. Por último, destacamos o Mixedink (http://www.mixedink.com/opengov/), uma ferramenta de wiki para que os cidadãos construam de forma colaborativa recomendações sobre como realizar um governo mais aberto, focando em três pilares: transparência, colaboração e participação.

Enquanto o Congresso Nacional Brasileiro discute a utilização ou não de dinheiro público em campanhas eleitorais, Barack Obama rejeitou tal artifício e focou nas contribuições individuais de baixo valor, mas bastante numerosas. Com isso, conseguiu mais de 6 milhões de doações abaixo de 100 dólares, o que constituiu a maior fonte de verba para custear a campanha.

O sucesso do presidente Barack Obama já despertou o interesse dos políticos brasileiros, que deverão importar tais iniciativas e utilizá-las na próxima campanha presidencial brasileira. O que resta saber é se, da mesma forma como está acontecendo lá, essas mudanças irão realmente se concretizar na política daqui e a opinião da sociedade brasileira será realmente ouvida, respeitada e levada em consideração pelo governo ou se continuaremos numa era em que políticos como nosso atual (por quanto tempo ainda?) presidente do Senado José Sarney se refere à internet como um “tsunami avassalador” que “acabou com a privacidade e os direitos individuais foram condenados a serem dinossauros de letras nas Constituições”. Os dinossauros, nesse caso, me parecem outros, Senhor Presidente.


Publicado em: http://rafaelbsoares.wordpress.com/ (Acessado em 18-08-2009)

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