terça-feira, 2 de agosto de 2011

BRICs ou RICs?



A sigla BRICs trata-se de um rótulo para definir quatro os países (Brasil, Rússia, Índia e China) com uma boa projeção de futuro. Em comum entre eles, existe apenas a grandeza física, já que, de acordo com as expectativas do Banco Milênio, com o avançar de suas economias, eles devem competir entre si. Há pessoas que não acreditam na capacidade do Brasil em figurar nesta sigla e falam até de um BRIC sem “B”, duvidando da força econômica brasileira. Mas a verdade é que os RICs possuem problemas, vulnerabilidades e potencialidades tão grandes quanto os nossos.
Com uma cultura milenar, a China conseguiu equilibrar um sistema econômico ocidental a um sistema político oriental, fazendo com que, aos poucos, o mundo se adaptasse a eles. O grande desafio dos políticos chineses é a integração de milhões de pessoas aos benefícios do crescimento econômico. Não basta ter um grande potencial, se ele não for capaz de atender os anseios da população. Outro aspecto problemático do país é a sua necessidade de recursos provenientes de terceiros. Em resumo, a China não é tão sustentável ou dona do seu futuro quanto parece, não sendo prudente, portanto,  acreditar em uma ascensão em longo prazo.
Índia, assim como o Brasil, tem como ponto positivo: a facilidade de alinhar-se aos interesses dos países desenvolvidos. O dilema indiano em relação ao seu crescimento econômico trata-se da maneira de gerar riqueza: seria ela suficiente para criar uma inclusão social? Por quanto tempo a força-motriz do seu crescimento será apenas a tecnologia de informação e serviços de call center? Como assegurar sua expansão financeira com estas evidentes limitações?
O R do BRIC fala de uma Rússia, politicamente provocadora e capitalista, na medida do possível. Com uma economia pouco diversificada (dependente de exportações de commodities energético) e com o peso do Estado ainda presente, falta um dinamismo característico da livre iniciativa em áreas estratégicas, como em pesquisa e desenvolvimento.  O problema russo parece ser o de conseguir olhar para frente, quando a classe política e as elites ainda parecem olhar para trás. Apesar de todo o seu crescimento, a Rússia precisa buscar um lugar mais seguro na economia mundial.

Mesmo o Brasil não figurando muito bem em diversos rankings internacionais e ser claro o fato de que temos grandes reformas por fazer, não estamos em uma posição tão desfavorável aos demais BRICs. Ao contrário da China e Rússia, somos uma grande e vigorosa democracia que assegura a liberdade dos seus cidadãos. Também não temos conflitos étnicos, religiosos ou relações arriscadas com nossos vizinhos, como ocorre na Índia. Não podemos negar que o nosso país tenha problemas que precisam ser resolvidos urgentemente, porém são solucionáveis no contexto democrático que sustentamos.
O futuro do “B”de BRICs é tão incerto quanto o de seus parceiros de sigla e depende, como para eles, das opções de política pública que fizermos ao longo do tempo. No entanto, o Brasil reúne condições até mais favoráveis do que as do RICs. É necessário valorizar isso como premissa do trabalho que a nação deve realizar, com pragmatismo e objetividade.
Fonte: Revista da ESPM